Um conto aporcalhado de Natal

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Era uma vez um menino. O menino gostava de uma menina, cujo nome não vou mencionar pois esta história é anónima e confidencial. Além disso, sinto que revelar o nome deixaria transparecer uma falta de respeito atroz para com uma pessoa ocasionalmente respeitável. Ora bem, onde é que eu ia? Ah!, pois! O menino gostava da Tati. Dado que os meninos que se interessam por madrinhas de pessoas geniais tendem a contrariar a eterna e inexplicável burrice masculina, o menino dedicou-se a desvendar os gostos e passatempos mais recônditos da dita. Assim, quiçá lhe agradasse. Utilizou diversas técnicas, tais como a livre associação ou a análise dos actos falhad… não, não era bem isto! Muniu-se de um microfone e de uma câmara comprada no chinês (mais tarde descobriu que era de plástico) e partiu à descoberta. Quando brilhariam os seus olhos? Em que situações denotaria a sua voz uma pitada de alegria? Um dia, de passagem num corredor de uma conceituada Universidade de Alfama, ouviu a luz dos seus olhos sussurrar “esta noite calhava bem era uma garrafa de água na minha Maria!”. Bingo! Havia descoberto! Nessa noite, o menino roubou um carro dos bombeiros para poder ascender à janela do quarto da sua amada e presenteá-la com o mais belo garrafão. Ao tentar erguer a escada, descobriu os encantos da mangueira. Mangueira aqui, mangueira acolá, dali irrompeu um jacto de excitação que culminou na escancarada janela da menina. Oh, que mangueirada! O menino pensou “bem, se ela queria água, bem a teve! Mas ela tem de saber que fui eu quem a molhou desta forma. Isto trabalhos anónimos é que não, não vá outro reclamar este feito!” Ascendeu à encantada, encharcada janela. A menina estava em pânico, agarrada a um dos presépios da sua colecção. Toda ela estava coberta pelo mais viscoso musgo. Delirando, o menino disse “Olá, deixa-me ser o teu menino… Jesus. Prometo carpintar-te melhor do que o José, não te deixar cornuda como a Mimosa, e pastar no teu musgo com tanta voracidade como o Geremias”. Ao que Tati respondeu “se montares as minhas bossas como os Reis Magos, ah meu menino! Hoje é Natal para ti!”

(Quem é que faz colecção de Presépios? Pffff! =D)

Notícia de última hora - já lhe partiram a janela! =O

Sentindo sem sentido IV

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Maré vaza. Sou acalentada por murmúrios que se opoem ao gelo que me trouxe até aqui. Derreto, qual estátua firme e inerte na sua eterna posição de força. Derretendo, eterna não será. Mas deixará de ser o meu molde de segurança? Temo que sim; anseio pela negação de toda a matéria que já me construiu. Momento, momento de vida... fazei-me largar o gelo. Dai-me o calor de um afago. Trazei-me o sol dos dis de outrém e tornai-o meu próprio nicho. Meu. Meu. Meu. Tornai-o unicamente meu. Ah!, arrogante seja, mas não me dará alento o ser partilhado, o ser que está na estrada de todos que não eu. Deixá-los seguir suas teias que de tão cheias vagas se tornam. A minha será maior. Mais elevada. Porquê? Porque será minha, e de mais ninguém. E chega.

Sentindo sem sentido III

Um dia de vozes a soar dentro. Onde, não sei, mas o facto do timbre que me chega não ser o meu dá-me asas para pensar, veículos que me transportam para dimensões além das minhas quatro paredes. Um tecto e um pequeno chão - ascendo ao primeiro não aspirando por um momento saltar, soltar-me e perder-me nele. O chão é pequeno por demais. Um salto para o vazio far-me-á falhar, falhar no que tenho seguro. Sem isso, sem local para me assentar, cairei. Cairei. Cairei sem rumo. E a falta de rumo apodera-se de mim. Corpo e alma. Alma. Alma sem nexo, sem espaço para saltar. Perdida num ponto seguro. Para onde me viro? Não posso mover-me, não dá para respirar. O porto seguro de mim é demasiado ténue para que dê ao risco de pisar seu limite...



(vejo hoje a repetição com os olhos da razão. No entanto, algo houve que me tenha feito gritar duas vezes o mesmo. E sei que o gritaria repetido até ao infinito. No fundo, a repetição é o elemento mais importante deste conjunto de palavras desconexas.)

Sentindo sem sentido II

Saiam! Saiam! Saiam daqui! Chega de palavras banais! Bastam já as construções de ser. Ser, quando cada de nós se mostra ser refugiado num nada, num nada que nos mostra... nada. Chega! Chega, chega... Quero gritar cem vezes chega! Não cabem nestas folhas, são demais para me aconchegar o vazio. Chega, chega! Chega de palavras que não chegam. Já tenho sentidos confinados que cheguem cá dentro. Não há movimento, não há sinfonia. Há ecos de zero. Ecos de um nada que precisa de uma supérfula acção que o disfarce. Sou aqui diferente. Sou aqui um som de revolta que se espelha em páginas. Em palavras. Em nada. Nada! Não! Fervo na falta de sentido que me envolve, envolve, envolve sem que o peça. Não peço, não exijo, não quero que nada me preencha. Não poderia o nada tornar-me cheia. (pausa)
Oxalá pudesse. Desejo que tal se realize, um dia. Que digo? Não quero! Deixem-me Estar em mim. Uma coisa fica certa: serei fiel a mim, não me perderei. Serei eu. Sem mais nada(s)...

Sentindo sem sentido I

Sei que estou e isso basta para fazer rodopiar cada partícula de mim. Sinto, sinto forte cada gesto alegre que do exterior invade os vazios de sempre. Desaparecem? Não! Tornam-se mais vincados, inúmeras vezes mais profundos. Porque basta? Não sei, sei que estou, certo é que exista. Não dentro mas perto de tudo o que faz sentir, de todos os que sentem. Não sentindo, sinto e sei: estou aqui, vejo risos, percorro olhares e dou em mim vertendo o que sempre mantenho em mim sem ambição de mais, sem sonho de ir mais dentro. Oh, seria tal possível? Encarnar no que me marca até aos confins de mim, fazer mais parte do que me cobre de lágrimas de risos platónicos...
Impossível: meu ser é ser distante, é ser ausente e estar na fronteira. Trespassar com o olhar (será com o sentir?) o que vive sem minha marca e carimbá-lo assim num segundo que decorrerá eternamente; que me perseguirá até aos infernos encerrados nos meus enleios. O que me presenteia um momento de ausência presente é o que me distingue dos sussurros que me deixam a arder a alma. Não estou, mas estou inteira. Não faço parte, mas deixo-me sentir intenso. Não sou eu para os demais, contudo faço juz a todos os gritos que me cobrem e nãp me deixam sair de mim, de mim...
De nada senão de mim... Sou, serei, eu... Mim mesma. Eu! EU!

As strong as my weakest spot

domingo, 23 de novembro de 2008

Perchance all my way has been nothing more than a miserable lie. No matter how many times I pick my worn weapons and climb down to the battlefield, I’m always hit and consumed by the same ancient fears once again. Hadn’t I thrown them away from my container of emotions? Hadn’t they vanished? Where were they hid all this time?

Longing for what seems to be fated for somebody else, it looks like at last I’ve realized I’ll always be trapped within my torn pieces. They won’t ever be put together, though I might pass the image that they’re tied up by unbreakable bonds. They aren’t. It takes a single glance of openness and my strong walls are washed away in a blink. They crack in a thousand broken hopes.

Why, then? Why shall I keep this endless combat? I’m struggling so badly for a futile answer. My pain won’t be eased. It will come back. It returns bolder every time, forever starving for my own annihilation.

Now I know – this I can’t amend. I’m stuck inside my weakest spots. Fragile… Too insignificant to be felt, far too small to make myself bigger.

sábado, 22 de novembro de 2008

Para cada rasgo de amor, sons inúmeros de hipocrisia ressoam pelas paredes deste globo imundo.

Quiçá o grito primeiro de humanidade tenha sido “Fechemos longe da vista a virtude! Coloquemos bondade e altruísmo num inacessível cofre revestido pelo pior de nós! Sim! Sim! Façamos nada que não a nossa merda atingir implacavelmente o que nos rodeia! ”

Ah!, que somos todos atrozes assassinos em recantos retendo o amor que p’la redentora chave anseia.

De que serve?

De que serve?

DE QUE SERVE…

…um véu de promessas incumpridas;

…um potencial de tanto que em nada se traduz.

Carta de amor

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lisboa, 10 de Fevereiro de 2007

Amor,

O meu coração brama, desalmado no seu desespero, que nada mais tem que te diga, que a calmaria da maré baixa o lavou para a eternidade de todo de tudo, de todos os tantos tombos e tropeções sem término trazidos à tona só por te lembrar, quando na verdade esquecido nunca foste e nunca serás. Grita tão agudamente alto na melancolia da sua dor “não lhe escrevas” que me ensurdece de tal modo que não me resta opção senão pegar no meu lápis trémulo, hesitante a cada risco, delineando palavras mais profundamente marcantes para o que não cessa de gritar em mim do que para a alva, inanimada folha de papel onde realmente estão a ser escritas.

Porém, quando não sobrar espaço para outro dizer, esta página significará algo que não só ela própria, um papel branco como tantos outros. Estará cheia de qualquer coisa nela depositada, bonita, feia, generosa, cruel; pois a essência das coisas ainda nos escapa (até quando a tua me escapará, meu amor?). Creio que o mesmo se passa quando ao amor diz respeito. Até ele nos atingir, não somos mais que folhas brancas, vazias, plenas de nada e plenamente convictas de que o nada será sempre melhor do que a marca de qualquer caligrafia. No entanto, ninguém nos pergunta se desejamos que escrevam em nós. Escrevem, riscam, desenham e damos por nós marcadas, preenchidas por algo maior do que nós alguma vez seremos. O simples traço de uma letra, quando a de quem amamos, pode escrever um livro inteiro na nossa alma. Jamais seremos as mesmas, por muito que tentem apagar ou apaguem mesmo o que já foi em nós traçado. Para o exterior, pareceremos de novo uma página por escrever, desinteressante e banal; mas no nosso íntimo saberemos sempre que já guardámos mais do que nada e recordá-lo-emos com saudade, com um vazio ocupado somente pela memória do que já foi e não poderá voltar a ser.

Posso dizer que desenhaste em mim a mais bela das perfeições, se é que neste mundo ou no outro haja algo digno desse nome, além de ti, meu amor. Cada linha do teu ser fez de mim primaveril e colorida folha de fábulas fantasiosas, enfeitada e enfeitiçada pelo formato mágico da escrita do teu lápis. Todavia, enquanto que com uma mão me enchias da poesia emanada pelo contorno da tua doce letra, na outra detinhas já a mal amada borracha que usarias para apagar a tua passagem. Deste conta, meu amor, que no lugar de um lápis usaste tinta permanente? Ainda guardo todas as palavras, o leve toque do teu traçado nas mais áureas e estimadas páginas da minha existência. Não, nunca abdico delas, deixo-as sim soltas, saltando desprendidas por todos os bocadinhos de mim. Vagueiam algures dentro de mim, não como memórias vagas, mas como belas e horrorizantes marcas bem presentes a cada suspiro que dou. Existem ainda, como que sem razão para alguma vez terem sido escritas.

Diz-me, hábil desenhador de inúteis utopias, houve alguma razão? Terá valido a pena, no teu íntimo? Dentro de ti, guardarás alguma página marcada pelo meu toque? Oh, amor, diz-me que sim. Sonho que sim. Sonho que guardes uma infindável biblioteca de livros em branco esperando que o traçado desta mão que tanto te ama os desperte para tudo o que em mim pulsa e me sufoca todos os dias. Sonho que desapareçam todas as maquiavélicas borrachas das nossas vidas e que jamais alguém ouse escrever sobre o que um dia escrevi em ti, se é que ainda guardas algum dos meus versos apaixonados. Sonho que não leias nada senão a minha transparente alma tresloucada e que me deixes ser inundada pela literatura do teu coração. Sonho que estas páginas que me saem agora da alma ecoem como o piar de um melro moribundo pelo seu sentimento dentro do que quer que seja em ti, desde que algo seja e em ti também. Sonho… Só, mas para sempre em ti. Á espera de ti, escondendo os mais belos capítulos da minha vida para que um dia termines a tua obra. Só sonharei… E sonharei só, porque tu não estarás comigo.

Amo-te,
TP
(à falta de inspiração... uma das minhas velharias favoritas).

Larger than Life

quarta-feira, 8 de outubro de 2008


“I’m here! She’s there!” were the only words my blurry head could put together while gazing up to the stage. All my energy had been stuck on that little girl in the middle of a black background, just as if I was before the only source of light in the globe. In fact, I was.

All over my life, whenever I got lost and scared in the narrowest and darkest alleys of my dizzy, confused mind, there was this one voice keeping the coldness away and leading me through my path of tears. Those words a person wrote miles away from my tiny corner were the firm ground that allowed me to rebuild myself a thousand times. More than that, they were perhaps the only proof that I was not alone, that somewhere, there was somehow this someone summing my messy sentiments up, getting to me like nothing else could. Out there, I had a friend I’d never met.

How can you thank the moon for shining in your way, when she’s so unreachably distant? Sitting down here in your earthy place, you can proudly stare up at her floating in the skies and let all the feelings of gratitude and admiration invade your soul. Nevertheless, no matter how strong that echo is felt, it’s sadly unable to travel through distance. She can’t see you. She can’t sense your stay. Kinda invisible, aren’t you?

But then it all changed. I had flown to the other corner of the continent to meet the person I’d seen on screens for 10 years. I was standing up there, facing the same voice, the very same breathtaking wisdom that I’d heard and followed for more than half of my life. “If I scream really loud, will she hear me?”. So I screamed my lungs out… and she turned. Could she see me? Her words in the microphone left no doubt – “We also have people from Portugal!”. She still hadn’t finished the last word and tears were already bursting in my eyes. She had noticed me! My echo had got to her after all those years, past all the distant gazes. I could finally make her know that somewhere, in a tiny corner of this small country named Portugal, there’s someone who feels her… deeply… with all their heart.

By standing up there, she could see me. I wasn’t invisible anymore. I didn’t hide, I got out of the shadow and she sensed my stay. I could join her for one day.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Meses em branco, em silêncio.

Meses vazios de sentimentos?
Momentos pobres em história?
Ter-me-ão secado de palavras a mente?

Jamais.

Jamais encontrarei frases que façam jus ao que foi em mim escrito.
Uma palavra soará sempre como um espelho velho e quebrado do turbilhão dos êxtases que me consomem diariamente.

Persigo a arte, o fado ditou que me faltasse o engenho.

Ah! Houvesse expressão no artefacto do vocábulo tão real quanto as sensações que me coram por dentro e esta folha explodiria num clarão mil tons, mil sons luzentes ou de negrume, reflexos da escondida alma que lhes dá um sentido, não uma palavra.

Na encosta

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Estava cansada, ferida na sua fome de esperança. A paz que buscava teimava em escapar-lhe num desolado jogo sem fim. Em cada novo rosto, uma promessa nova, a mesma desilusão, um tombo mais forte.

Sentou-se, por fim, na mais íngreme encosta jamais desenhada, fincando firme os longos, esguios dedos no granito amornado por rios de luz solar. O toque áspero e quente da rude pedra contrastava com a suave brisa por ali ia planando, esbatendo-se nos seus ombros desnudados, permitindo a um doce arrepio desbravar caminho entre as suas vértebras e culminar na cabeça placidamente virada para os céus. Cerrados os olhos, deixava as gigantes mãos do sol acariciar-lhe a face enquanto uma cascata lhe fazia chegar aos ouvidos o fresco chilrear das águas em movimento.

Afinal, é só isto”, sussurrou para si ao mesmo tempo que os lábios se estenderam num feliz sorriso. “Finalmente encontrei-te”.

(para a Mia, que reinventa o mundo nas sensações que dele tira.)

Escapando

domingo, 29 de junho de 2008

Enrolaste um novelo de ilusão à almofada em que todas as noites a tua desordenada, desolada cabeça se pousa. Com ele, vais fiando teu tão terno palácio de ouro, palco onde baila lacrimejando a dor que te consome. Roda, rodopia num tumulto inquieto, arrastando-te em devaneios incertos cuja condição única é ceder-te um nicho quente onde te possas abrigar.
Guardaste o infame mundo lá fora, como que não fazendo parte de ti, pois dele esperas somente que te presenteie com uma qualquer mácula sobre a qual sonhar. Observa-lo sagazmente, de pernas vergadas, imóvel e expectante algures onde ninguém te possa sentir, reduzindo a vida e seus enleios a meras minas de quimeras a forjar. Somente aí, no teu refúgio dourado pleno de espaço para falhanços, o externo espectro pode transfigurar-se numa destemida e vívida alma sedenta de actividade. Assim teces tuas tramas vãs, ansiando sentir sonhando a vida que corre, escapando.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

I sense your tears falling
Even when you cover up your face
And while longing for an embrace
Your mouth goes on smiling

If I was your chasing shade
I’d be the ground that’d never fade
The drops those eyes silently draw
I’d willingly soak up them all!

If only…




Momentos de cor

domingo, 25 de maio de 2008

Deixa gotas cinzentas tombar
Dos ponteiros do relógio
Um, dois, infinitos Tic-Tacs do inevitável
Oh tempo, zombo de ti.
Como poderias apagar tamanha cor?

Estação de serviço

segunda-feira, 28 de abril de 2008


segunda-feira, 21 de abril de 2008

A cada olá trocado, um aceno frio; a cada olhar cruzado, um subtil desvio; a cada momento, um único pensamento:
Se o tempo congelasse
E nada deixasse traço
Afundava-te num abraço
Pintado de carinho.
Coração que aguentasse
E talvez me arriscasse
A segredar-te um beijinho.

Vento de desgraça

domingo, 20 de abril de 2008

A forte ventania de uma desgraça anunciada passa, eu permaneço firme sem vergar ou sem sequer tremer. Como se já visse a derrota como normal, esperando-a ao virar de cada esquina... Sem esperança, não há sonho por destruir. Eu já nada espero, logo coisa alguma pode destruir-me.

Como gostava... de voltar a ser frágil...

Torre de vigia

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Coloco-me na penumbra da mais estreita ameia, esperando que detenha todas as setas que me possam ferir. Ouço marchar o exército, está para chegar a batalha de hoje. Encolho-me num calafrio, toda eu coberta pela velha e húmida pedra austera. Sons difusos e sombras imaginárias do que está prestes a surgir paralisam-me todos os músculos, mas não cessa um de pulsar insanamente, gritando o medo que eu tanto desejo enclausurar comigo, na minha frígida e solitária muralha.
Vislumbro fugidia o horizonte, adivinhando com temor o perigo que aí vem. Os passos marcam meus compassos:

Tum.

Tum.

Tum-tum.

Apareces (desabam as muralhas…), lanças num olhar a fatal seta (…sou atingida em cheio…) e segues o teu caminho para casa, indiferente ao que desencadeaste em mim (…ou em vazio).

Não há tempo para deixar sangrar. Qual fado de Prometeu, amanhã a batalha repetir-se-á e eu… eu estarei protegida, encolhida na penumbra da minha torre de vigia (estarei?).

segunda-feira, 17 de março de 2008


"Everyone...everyone has lost something precious."

"Everyone here has lost homes, dreams, and friends."

"Everybody..."

"Now, Sin is finally dead."

"Now, Spira is ours again."

"Working together..."
"Now we can make new homes for ourselves, and new dreams."
"Although I know the journey will be hard, we have lots of time."
"Together, we will rebuild Spira."
"The road is ahead of us, so let's start out today."
"Just, one more thing..."


"The people and the friends that we have lost, or the dreams that have faded..."

"Never forget them."

Desabafo

domingo, 16 de março de 2008

Lembro-me de ti. Os contornos do teu rosto e o timbre da tua voz são assustadoramente claros, como se ainda ontem tivéssemos estado juntas (e já voaram tantos anos).

Lembro-me que gostava quando passeávamos a manhã inteira, quando me ajudavas a fazer bolinhos ou quando me acordavas com beijinhos.

Quando chegava o fim do dia e te ias, ficava à janela a ver-te partir.

Todos os dias.

Durante 10 anos, os 10 primeiros da minha vida, a única luz desta infeliz criança era a ideia de um dia poder fugir e ficar contigo. Deve ser por isso que hoje me lembro. Ou talvez seja porque, quando partiste, vieram à tona as mentiras, os interesses por detrás de cada abraço, cada carinho, cada uma das delícias que constituíam a minha única fonte de felicidade... Os gestos são ocos, se não fundados sobre as estacas de um sentimento puro. E, quando eu soube que tais estacas não existiam, tudo o que tinha de mais querido na minha ainda curta vida foi varrido num sopro...

Diz-me - como foste capaz? Eu não merecia. Era muito jovem e gostava demasiado de ti para que a tua traição não ficasse presa a mim como uma lapa... para sempre. Mataste a minha fé nas pessoas sem piedade. Como foste capaz?

De qualquer forma, mais do que lembrar-me de ti, lembro-me de ti hoje. Parabéns. Sê tão feliz como me fizeste, um dia, ser.

Arde até ao fim

sábado, 8 de março de 2008


Rugas... ou marcas de uma vida?

Sombra de alguém que já não é... ou máscara da sabedoria das eras?

Pena que não saibamos ver mais além...

O fulgor último de uma vela será sempre o de maior esplendor.

Ode à lágrima

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quero uma razão. Não! Quero A razão que me prenderá muito antes de eu a agarrar e me amarrar com ela ao mundo. Peno pela salvadora semente que germine em mim a mais bela das fantasias terrenas. Colho da alma destroços passados, presentes ainda num qualquer murmúrio que me assombre com recordações das longas e sofridas batalhas já findas.

Remexo escombros, percorro as ruínas de mim, apreciando a desolada paisagem. Volto atrás - não à lágrima, mas ao sal que dela restou, construtor dos meus alicerces. Sim, sou uma estátua de sal, erguida por marés de enormes gotas de dor. Oh, água do desespero, o que restou de ti? Onde me trouxeste? Sei-o, sei-o hoje, agora que já há muito te evaporaste como um qualquer líquido. Soubesse-o outrora e quiçá nunca terias acampado em meus tristes olhos ou rolado sobre a pele deste rosto que por ti clamava, que de ti esperava tanto mais que um explodir de sofrimento. Tanto mais... que somente o teu sal, destroço de um fulgor, minério que pavimenta as estradas da minha face, caminhos supremos em que deambulei até aqui (perdida, pensava, mas sei hoje que nunca me deixaste à deriva).

Parei agora - a estrada terminou. Preciso de um percurso que me guie no escuro e não aprendi a construí-lo sem a tua ajuda, pois sempre me acompanhaste. Onde estás? Clamo, clamo por ti.

Flower & Butterfly

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A piece of the past

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Vou contar-vos uma história. Não é nenhum conto de fadas. Há muitas, muitas lágrimas por trás...
Em tempos conheci uma criança que se odiava. Uma rapariga que todas as noites rezava a Deus para que a transformasse noutra pessoa. A frustração de não ser nada do que se esperava dela despedaçava-a, por dentro...por fora... De dentro para fora e de fora para dentro. Essa miúda não conseguia absorver do mundo razões para lutar por si, razões para querer viver e ao mundo exterior apenas mostrava raiva, uma transfiguração de si. As lágrimas, os sonhos e medos, a necessidade de amor... tudo estava guardado num cantinho intocável. Não era feliz. Mas a vida foi-lhe dando pequenas coisas às quais se agarrar e uma a uma, todas foram agarradas com unhas e dentes. Com esse ponto de partida, ganhou a vontade de ser alguém na sua própria pele. Foi vencendo batalhas em que o adversário era ela mesma, foi-se ganhando a si, conquistando o seu espaço no seu próprio coração. Hoje, mais crescida, já não deseja ser ninguém senão ela mesma e agradece o facto de ser tão imperfeita pois caso contrário, sem nada para melhorar, não teria por que lutar. E lutar é viver. A partir de si, conseguiu abrir os olhos para as maravilhas do mundo e amá-lo, cada partícula, cada gotinha de água, cada grão de areia. Tudo é vida. Ela é vida: EU sou vida. Somos todos vida, aprendamos a amar-nos, amar a vida, amar tudo o que é vida...tudo!
Já não quero ser mais ninguém. Já não preciso de mais nada. Tenho-me a mim, tenho a vida...tenho o MUNDO!

[26-03-06]

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hoje perdi.


Não sei se algo que eu possa vir a reconhecer como tendo sido meu, mas perdi. Talvez nada que alguma vez tenha tomado consciência de que existisse, de tão insignificante para o decorrer da minha vida. Perdi. Perdi incontáveis fôlegos e suspiros, palavras ditas ou por dizer, o culminar do dia, o nascer da penumbra que me envolve. Não me pertencem, dirias tu. E respondo - serão de mais alguém, se para mim sou eu que os sinto e mais ninguém os poderia ter dito, ouvido, presenciado (ou o que quer que seja) senão eu? Conta-me cada olhar, cada inspiração - não mos podes devolver. Conta-me. Conta-me que hoje o Sol foi engolido pelo estuário como fusão erótica de corpos separados por biliões de quilómetros. Não me devolves esse momento nem tantos outros milagres do mundo que me escaparam hoje, ontem, desde o meu primeiro acordar, ou antes dele até!

Nós, Homens, julgamos conhecer tudo de tal forma que esquecemos o que perdemos a cada instante. O aqui e agora são microscópica parte incompletíssima do que denominamos mundo, cosmos, universo... Tantos são os conceitos que definimos e arrumamos arrogantemente a um canto de nós como se realmente os soubessemos, quando na verdade a verdade cinge-se ao que pensamos não ter perdido, que porém jamais voltará.

Porque a batida que o meu coração acabou de dar não será dada novamente... Se a perdeste, não a definas como se a soubesses.

Sorriso

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


Diz-me o que te desencadeou
Mostra-me o que escondes
As lágrimas contidas
Ou as que não queres revelar.
Não, não, não quero saber nada!
Existe, apenas existe
Deixa que o teu brilho me inunde
E me aqueça o coração.
Só isso.
Por favor...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Porque...

...Um dia acordei e ousei sonhar, ousei voar.
...Um dia voei sem receio de cair, sem receio de sentir.
...Um dia senti mais que amor, mais que dor.
...Um dia me doeste, me esqueceste.
...Um dia esqueci como se voa, esqueci o som que de um riso ecoa.


...Hoje adormeço, cansada de sonhar.

Último autocarro

sábado, 19 de janeiro de 2008

Consolo, Edvard Munch

Meia-noite. Último autocarro. O gelo paira no ar do breu nocturno, alumiando penitencionsamente cada imundo resto do meu corpo afogado num mar de arrependimento. Último autocarro. Fito trémula minhas mãos queixosas e alheias à necessidade de suportar o estóico castigo que a mim mesma me imponho. Treme igualmente a minha consciência, e por isso me castigo. Último autocarro. Vem aí. Entro? Não, não posso ceder. Mereço sofrer. A purificação dos meus pecados exige que me funda com a noite. Só aí terei paz. Último autocarro. Parou. Entrei.
Para onde vai? Não sei, não interessa. Vou, não vou ficar. Isso basta. Último autocarro. Duas pessoas. Eu e o motorista velho, seco pelo Verão, erodido pelas chuvas invernosas, tal como o autocarro. São um só. Último autocarro e uma pessoa, então. Eu. Só.


 
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