Último autocarro

sábado, 19 de janeiro de 2008

Consolo, Edvard Munch

Meia-noite. Último autocarro. O gelo paira no ar do breu nocturno, alumiando penitencionsamente cada imundo resto do meu corpo afogado num mar de arrependimento. Último autocarro. Fito trémula minhas mãos queixosas e alheias à necessidade de suportar o estóico castigo que a mim mesma me imponho. Treme igualmente a minha consciência, e por isso me castigo. Último autocarro. Vem aí. Entro? Não, não posso ceder. Mereço sofrer. A purificação dos meus pecados exige que me funda com a noite. Só aí terei paz. Último autocarro. Parou. Entrei.
Para onde vai? Não sei, não interessa. Vou, não vou ficar. Isso basta. Último autocarro. Duas pessoas. Eu e o motorista velho, seco pelo Verão, erodido pelas chuvas invernosas, tal como o autocarro. São um só. Último autocarro e uma pessoa, então. Eu. Só.


4 Echoes:

Alice disse...

Nao se sabe o que acontece antes.
Fica a cargo da imaginacao.
Ou da realidade.
Todos nos ja apanhamos autocarros que nos afastam daquilo de que nos arrependemos.
Nao do arrependimento. Nunca do arrependimento.
Ou que nos afastam daquilo que nao nos arrependemos.
Entra no autocarro.
E que ele siga a carreira do 28 e tenha a sua derradeira paragem nos prazeres.
Es muito especial e tens uma beleza e profundidade surpreendentes. Gosto muito (muito) de ti. ;)

Borbuletah_Azul disse...

belo texto =D

a mt k nao postavas porcaaaa xD

Anónimo disse...

Lembra-te SEMPRE que não estás só!...
Estás com a melhor companhia que poderias ter; e que, é a única, podes ter a certeza, que te acompanhará vida fora... Tu mesma!
E é uma grande companhia! Isso garanto-te EU!

Beijinho grande, minha Tété! =')

Anónimo disse...

obrigada! tb tens bom gosto musical, gostas da banda "the veronicas" fixe...
kiss

 
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