I wanna be wrong!

domingo, 30 de agosto de 2009





"I Want To Be Wrong"

Let me introduce myself, my name is no concern
The room is filled with superficial voices
As the smoke clears I can see one hundred little lies
Racing to the finish for a consolation prize

I want to be wrong
I wish that I was uncertain just like yesterday
This is not who I am, been planning my escape
So long now that my map looks like a maze

Always on the dark side of a pessimistic moon
Or burning in the sun of what they're saying
If you have the foresight can you read between the lines?
Finger two and four inviting fingers one and five

To be in this song, it's nothing I can shut off
But I think it's my place
To let you know I know that all your plans are fake
And what you give me I could never take

Are you confusing me with someone else you hardly even know?
I'm sitting here observing and more often I am learning
That you are an artist and this is your show... so sing it

I want to be wrong but what did i really think
That this could become real?
Now writing in cliches to learn from my mistakes
But how much of you could anyone take?



Outra das minhas bandas favoritas; já há anos que não procurava saber se tinham algo novo. Hoje procurei e foi o momento perfeito para conhecer esta música. Isto porque, sinceramente, há algum tempo que vivo assustada com a mesquinhez com que me deparo nos vários círculos onde me insiro (ou preferia não inserir). Mentir, fingir, deturpar, camuflar, mascarar, trair... Tudo é praticado como se de um desporto se tratasse e custa-me entender como é que tanta gente consegue conviver, no seu íntimo, com a merda que já fizeram. Ao contrário do que, para mim, seria natural, as pessoas parecem apagar da consciência que não valem metade do que mostram. Que o que os outros vêem nelas é uma imagem habilmente construída pelas suas teias de mentiras, enganos e encantos supérfulos. Desde que a sua imagem seja positiva para o exterior, que sejam atraentes, populares e/ou bem sucedidas, tudo corre às mil maravilhas. A sua auto-estima está preservada; o seu ego não cabe neste planeta de tão inchado. Não interessa quantas pessoas enganaram para chegar onde estão, pois falsear é encarado como fazendo parte das regras do jogo. Nem é concebível para esses seres que alguém siga outros princípios, os honestos. Pessoalmente, não consigo ser assim. Não sei se o quereria ser se conseguisse, mas o que é facto é que não sou – sou brutalmente honesta, até quando posso magoar alguém ou sair a perder. Chamem-me ingénua ou estúpida, que por vezes também o chamo a mim mesma, mas continuo a acreditar que a verdade é sagrada, mesmo quando cruel. Este antagonismo entre os meus valores e os dos que estão à minha volta causa em mim uma certa contradição, na medida em que, por um lado, me sinto minúscula e uma perfeita idiota sempre que vejo alguém a triunfar apenas pelos seus esquemas, quando eu não o conseguiria fazer; e por outro, não deixo de olhar para quase toda a gente com pena, desprezo e a superioridade arrogante de quem sabe que vale mais. De quem sabe que mesmo vivendo só e pouco identificada com os outros, não se engana a si própria e assenta a sua vida em algo verdadeiro, real e com valor, sendo que isso basta para ser infinitas vezes melhor do que os vermes que andam por aí a fazer das suas vidas um teatro de terceira categoria.


Hello, Missing

domingo, 16 de agosto de 2009





Provavelmente, as minhas favoritas dos Evanescence. Que arrepio ouvi-las numa noite como esta. É tão estranho sentir mais empatia e mais calor com uma simples música do que com todo o mundo de gentes e coisas que me rodeia. Daí, só mais gelo, mais defesas, mais feridas abertas.


Nota: Para aqueles que possam eventualmente acompanhar este blog, a direcção do mesmo vai mudar um bocadinho, pelo menos durante uns tempos. Neste momento, preciso mais de um diário público do que de um local onde publicar algo com algum valor "artístico". Não deixão de ser gritos para o vazio, como sempre foram.

Monólogo na plataforma

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

X - Olá, Filipe. Lembras-te de mim?
Resposta

X - Não? É normal. Acho que estava demasiado escuro naquele bar para te lembrares da minha cara e também... tinhas tanto em que pensar! Mas diz-me, já explicaste aos teus colegas de casa porque é que têm todos de limpar e cozinhar?
Resposta

X - Wow, disseste-lhes isso?
Resposta

X - Vês? E estavas tu com medo que eles reagissem mal e que o José fizesse birrinha.
Resposta

X - Estou mesmo contente por ti! Mas mesmo assim pareces abatido...
Resposta

X - Ah é? Vens do trabalho agora? Tu disseste-me o que era... espera! Trabalhas no supermercado! Eu sabia! O dia correu mal, foi?
Resposta

X - Há dias assim, mas aposto que também há coisas divertidas por lá, certo?
Resposta

X - Ahah! Vês? Isso é giro! E se desses mais valor a essas coisas?
Resposta

X - Ok, ok! Então adeus! E cuida de ti!




X acena e salta da plataforma, de encontro ao metro que ia a passar. O corpo, não identificado, jaz agora em mais uma campa sem nome na qual ninguém deixará flores.


Porque às vezes, a história está mesmo nas perguntas.

Is this the right lake? Oh, it must be - they all look so happy...

Uma coisa fofa *.*

domingo, 2 de agosto de 2009



Totalmente viciada neste vídeo e nesta música... É uma coisa tão fofinha que até apetece apertar ^^

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nunca fui suicida. Engana-se quem pensar que alguma vez exibi essa tendência. Não a tenho, nunca tive. Porém, encontro-me hoje demasiado assustada com as crueldades do mundo, de forma que pensar que o amanhã surgirá me faz tremer e quase rezar para que o amanhã não chegue nunca. Não tenho forças, está tudo a desabar dentro e fora de mim. Sobretudo dentro. As certezas que tenho acerca do que sou e do que tenho feito com a minha vida são de tal modo negativas que me questiono se mereço sequer sentir um sorriso, por breve que seja. Esta parte nem interessa muito pois, merecidos ou não, há já algum tempo que meus sorrisos são vazios. Se me movo em busca de um mundo que me preencha, este acaba apenas por exigir de mim aquilo que embora não possa oferecer, acabo por esbanjar, assim esvaziando-me mais e mais. Todas as palavras soam ocas, todos os momentos a perda de uma vida que se encontra algures, num local que não o meu. Nada me diz coisa alguma, e o pouco que me prende não tenho eu força ou arte para o prender a mim. De facto, tenho-me posicionado sempre à margem do grande rio onde correm fortes as águas, nos bastidores da peça onde decorrem intensos os actos. Creio que até me sentiria, hoje, desconfortável num papel central. Aliás, se nunca o tive, foi por não estar em mim tê-lo. Sou banalmente cinzenta, ridícula, nojenta. Odeio cada partícula de mim, cada acção que falhei, cada frase mal dita, cada passo em falso. Vivo num remorso constante por tudo o que sou, tentando em vão acertar o passo, esperando pela oportunidade de simplesmente estar bem. Mas esse dia tarda, adia-se para o próximo fim-de-semana, para a próxima noite, para as férias que estão para chegar. Chegam e a dor permanece colada a mim, com a agravante de me fazerem pensar “Então, mas não era agora que eu deveria ser feliz?”. Receio o amanhã por saber que não será o dia. “Hoje é o dia!”... Bem queria, como o desejo. Não, hoje é o dia de me abraçar a mim mesma e repetir baixinho “vai ficar tudo bem”, tal como o aluno repete 100 vezes a correcção de um erro ortográfico. Amanhã, abraçarei com menos força, pois meus braços começarão a doer, repetirei ainda mais baixo, com a voz rouca e cansada, os olhos vermelhos, a alma negra. Com menos fé, certamente com menos fé... e mais vontade de por fim me calar, de me largar de vez.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só..


Florbela Espanca


domingo, 19 de julho de 2009


It's been an honor... and it will always be.

So long. I will never forget you.

Nevermind Me

sábado, 11 de julho de 2009



What is the game we're playing?
should I stick around for more?
Snap your fingers I'll coming running
Leave again when you're bored
with me
I'll make it easy

Nevermind me, nevermind me
I'll just cast shadows on your walls
Nevermind me, nevermind me
My God I feel so small
Nevermind me, nevermind me
I'll just cast shadows on your walls
Nevermind me, nevermind me
I'll just let myself out.

This facade that I'm stuck with
has got me wondering
Just tell me how you want me
and I'll be naked stumbling
just to get a reaction, any signs of love

Nevermind me, nevermind me
I'll just cast shadows on your walls
Nevermind me, nevermind me
My God I feel so small
Nevermind me, nevermind me
I'll just cast shadows on your walls
Nevermind me, nevermind me
I'll just let myself out.

Bottle up your smile
Pour it in a cup
I'll be on my way
once I've sobered up

sexta-feira, 10 de julho de 2009


Esqueci o porquê de ter outrora tentado esquecer. Com isso, esqueci o próprio esquecimento. Teria mesmo esquecido? Talvez esquecera, mas de forma alguma apagara este fogo que sem aviso me faz vibrar de novo, num fôlego que de velho não se esgotou. Porquê remeter para a escuridão a própria luz? De que serve fingir-me banalmente vazia, quando encerro em mim a maior das belezas deste mundo? Mesmo que só, apenas minha, para partilhar somente com as minhas entranhas... Possuí-a até enquanto me fugia e se escondia, até quando a achava totalmente fora de mim. Que infeliz! Que enganada, estava! Renasceu. Renasceu a chama e não a quero apagar. Guardei, guardo-a em mim.

domingo, 21 de junho de 2009

Oxalá me aflorassem à mente palavras exímias que, por um momento, me unissem todos os vazios e os deixassem pedecer escondidos, cobertos sob um manto pesado de maravilhas sonhadas. Contudo, minha suprema expressão é aquela que me rola pela pele, que me encharca as mãos, os lábios, a folha de papel... Só para se evaporar com o calor, invisível e indiferente, como se nunca tivesse existido. Oh, pudera eu evaporá-la também da consciência, mas é-me demasiada, duramente real. Não, não me restam palavras cativantes para berrar aos quatro cantos este vazio que enclausuro. Da dor, tudo se desvanescerá num sopro. Nem na minha almofada, agora húmida, molhada, encharcada, ficará a menor nódoa do que me devora e consome. Para mim, porém, não há sal que não me manche, corte e dilacere as entranhas na crua consciência de que chorei, choro e chorarei num canto só meu.

Porque a dor só se revela aos outros quatro cantos quando é cantada com belas palavras floreadas. Nesta folha, por exemplo, faço habitar palavras habilmente compostas e esgueiradas por entre latejantes lágrimas nela estateladas. As palavras, talvez alguém recorde. As lágrimas, só eu não poderei esquecer.

Directamente do submundo

segunda-feira, 15 de junho de 2009

“Digo-vos com toda a solenidade que foram muitas as vezes que tentei tornar-me num insecto. Mas nem sequer disso estive à altura. Juro, senhores, que estar demasiado consciente é uma doença.”

“Porque será que nos momentos, sim, nos precisos momentos em que teria maior capacidade de sentir todo o requinte daquilo que é sublime e belo acontece-me, quase por destino, não apenas sentir mas fazer coisas tão feias que... bem, resumindo, acções que talvez todos cometamos mas que, quase de propósito, me aconteceram na altura exacta em que tinha perfeita consciência de que não deviam ter sido executadas. (...) Mas a questão principal era que que tudo isto não era, de certo modo, acidental em mim, era como se estivesse destinado a acontecer. Era como se fosse o meu estado mais normal, não sendo de todo doença ou perversão. (...) Mas antes, no início, não imaginam as agonias que passei nessa luta! Não acreditava que acontecia o mesmo às outras pessoas e por isso, durante toda a vida, escondi esse facto sobre mim como um segredo. Sentia vergonha (talvez ainda sinta)... ”

“O desejo básico e malicioso de descarregar essa maldade no seu agressor talvez se faça sentir de forma ainda mais apurada [no homem de consciência] do que no que no homme de la nature et de la verité. (...) Chegamos, por fim, à acção em si, ao próprio acto de vingança. Para além desta malícia fundamental, o azarado rato [o homem de consciência] consegue criar à sua volta tantas outras malícias sob a forma de dúvidas e questões, junta à questão principal tantas outras questões por responder que, inevitavelmente, gera à sua volta uma espécie de fermentação fatal (...) composta pelas suas dúvidas e emoções e pelo desprezo que os homens de acção espontâneos lhe cospem para cima (...).

Lá, na sua casa horrorosa, malcheirosa e subterrânea, o nosso rato insultado, esmagado e ridicularizado fica imediatamente imerso numa fria, maligna e, acima de tudo, duradoura maldade. Ao longo [dos] anos, irá recordar-se do seu ferimento até aos mais ínfimos e mais ignominiosos pormenores; e, cada vez que o recorda, juntar-lhe-á, por si mesmo, pormenores ainda mais ignominiosos, escarnecendo-se e atormentando-se maliciamente com a sua própria imaginação. Ele próprio ficará envergonhado dos seus devaneios, mas ainda assim recordar-se-á de tudo, passará em revista, uma e outra vez, cada pormenor, inventará coisas inauditas contra si, fingindo que tais coisas poderão acontecer, e nada perdoará. Talvez também comece mesmo a vingar-se mas, por assim dizer, de forma esporádica, de maneiras triviais (...), não acreditando quer no seu próprio direito à vingança, quer no sucesso dessa vingança, sabendo que, apesar de todos os esforços de vingança, irá sofrer cem vezes mais do que aquele de quem se vinga, enquanto o outro, atrevo-me a dizer, nem com um arranhão ficará. No leito de morte, recordará tudo novamente, com os juros acumulados ao longo desses anos todos...”
FÉDOR DOSTOIEVSKI, Notas do Submundo.
Numa palavra: Genial

domingo, 3 de maio de 2009

Trémula de carências
Do passado, as ausências
D'uma história reescrita ' cada passo
Dá-me o fardo d'um novo traço
Sobre o que cá sempre esteve
Como se leve
Como se não bastasse.

quarta-feira, 8 de abril de 2009



Wherever it takes me... I'll follow my heart now

quarta-feira, 1 de abril de 2009

I'll Follow


As time goes by its usual way
And reality's unfolding around me
I suddenly realize
I see it so clear just where I should be

That place is not here I'm sorry to say
I'm sure that you've felt it too
That feeling of sadness when happiness fled
Deep down you know what to do

I never knew 'bout tomorrow
I've deared see
I'll follow
Wherever it takes me
I know I'll follow my heart
Now I know


You may think I'm scared but I'm not
I'm ready to do what's right for me
I knew it all along
Just took some time but now I finally see

You can ignore what's right there in front of you
But at some point you open your eyes
It sure can be scary
There's no turning back
Only the truth

No more lies

I never knew 'bout tomorrow
I've deared see
I'll follow
Wherever it takes me
I know I'll follow my heart
Now I know


I never knew 'bout tomorrow
I've deared see
I'll follow
Wherever it takes me
I know I'll follow my heart
Now I know




[As always... My feelings flying through her voice. I echo you, Lene.]

When everything's right... Finally everything's right

sexta-feira, 20 de março de 2009



And when we feel like we're drowning into a pool of mediocrity, the world decides to remind us how joyful life can be.

For those who've kept themselves pure...
For those who don't forget...
For those who allow us to feel their greatness...

...It's always worth living another day. Here we are.

Então adeus

domingo, 15 de março de 2009

Abres lentamente a persiana, enquanto estendida me deixo estar entre lençóis que de seda não sendo, sedentos estão por te ter de novo neles jazendo. O quarto, outrora oculto em sombras disformes, afoga-se na luz que de rompante nos rouba as réstias da noite. Forço olhos meus a manter-se cegos perante o amanhecer, tentando em vão prolongar o sonho que de fugaz se esfuma pelos ares. Terá mesmo de acabar? Esgotadas as razões para não enfrentar a manhã, deixo descolar de uma vez as minhas pesadas pestanas. Vejo-te agora na claridade. Contra a luz, rebate-se serena tua silhueta perfeita, absorta no quadro pintado por detrás da translúcida fresta envidraçada. Ali está a Serra deitada, num fresco mar de verdes ondas longínquas sobrepostas ao infinito azul celeste. Tal céu que não conhece fim, ou antes o tem num algures que de tão desconhecido se torna impensável. Ao contrário de nós, meu amor… Percorres a paisagem diante da janela com tua ávida vista, saboreando a doce montra de mundo que te aguarda; um sem fim de montes, cumes e sopés encantados por viver. O desconhecido devir dá forma a teus devaneios distantes, levando-te a levitar mais além. Ali, num lá que em meus modestos muros não te amarrará.


Bebo o sorriso que momentaneamente aflora às tuas faces, tentando inutilmente fazer sucumbir a sobriedade e assim abafar todas minhas sedes de ti. Sedes de seda, aquela que o breu nocturno me deixava devanear e que agora se converte num roto, pobre pano de linho em lágrimas manchado. A cama onde me deito range desconcertada ao meu soerguer, ferida e prestes a perecer em pedaços mil. Distante, no canto mais oposto, vestes-te pesarosamente e com vagar, evitando olhar-me apesar de me saberes já desperta. Raiou o Sol também para ti e, à luz dos sonhos rompidos, sabes bem que a hora da partida é chegada.


Não adianta adiar o adeus. Quebra amarras e voa de encontro ao teu céu. Mas, ao sair, cerra a persiana… E permite que o negrume me embale o choro e descanse minha dor.

domingo, 8 de março de 2009


I wish I could stare at the wall and see something different everytime.




Só dias

Correm dias, marcados apenas no calendário onde são riscados, um a um, qual lista de alvos a abater. Inútil lista, esta, pois meus dias mortos nasceram à partida. Para que revivessem, necessário era que soubesse vivê-los. Não o sei, pois ninguém houve que me mostrasse como ressuscitar meu próprio sentir (pudessem cadáveres guiar-se de regresso à vida…). Deparo-me com uma estranha ausência de querer, numa amarga existência cujo suave sabor de dias idos me persegue e atormenta. Findas as descobertas, minha sede do novo esbarrou nas profundas e pálidas paredes de sempre e aí ficou estampada, estática para a eternidade:

Nada é novo, novo é somente o nada que resta.

Divagando um pouco...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Prever. Sofrer. Aceitar. Continuar. Chorar.



Prever que vou sofrer.

Sofrer e aceitar.

Ao aceitar, continuar. Aceitar continuar.

Continuar a chorar.


Se aceitar sofrer, prevejo continuar a chorar.

Queda

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Falho o passo e tombo desamparada no meio da metrópole. Olho pés e pernas daqueles que passam e, fitando-me ou não, sequer ousam parar. Antes de mais, esboço uma inútil tentativa de me soerguer e voltar ao frenesim de acelerados andares. Não consigo. Vislumbro a minha perna partida, de onde brota um gélido sangue rubro espalhando-se em meu redor. Observo agora, com surpresa, os pés dos transeuntes mais ao longe – passam ao largo da mancha encarnada que vai cobrindo o passeio sujo. Alguns apressam-se a ultrapassar-me, com desdém; outros abrandam sem cessar e deliciam-se com os esgares de dor estampados nas minhas feições. Será que ninguém se vai deter para me acudir?


Cerro os dentes e solto um gemido profundo – alguém acabou de me pisar! Como pode ser? Agora, mais do que o desprezo e o desdém, divertem-se com a minha frágil presença e ainda acalentam a minha dor. Sinto-me estranhamente só num mar de gentes e barulhos. Os tacões das senhoras zumbem-me aos ouvidos como compassos de relógios desacertados, transformando minha mente num caos prestes a estourar. Mais ao longe, os condutores fazem soar suas buzinas impacientes. Esses sim têm destino e apressam-se a lá chegar, inquietando-se com as demoras e com todos aqueles que demora lhes impõem. Isto faz-me pensar – afinal, aonde ia eu? Já nem sei, soprou-se-me da mente, tal a sua importância mesquinha. Neste momento só sinto dor. Dor e vazio. E solidão. Xiça!, afinal ainda sinto algumas coisas!


Penso nos que não se apercebem sequer que ali me encontro estatelada e só na calçada fria e suja. Ao contrário de mim, que já não lembro onde ia, talvez tenham problemas importantes que os impeçam de olhar em volta. Sim, deve ser isso. Têm expressões tão carregadas, suas faces! Oh, que infelizes. Tenho pena deles. Espero que em breve suas faces se transfigurem em algo melhor e mais ligeiro. E aqueles que apesar de me verem e se aperceberem da minha presença não me estendem a mão? Tremo por pensar que talvez já tenham caído sem que ninguém tenha parado para ajudar. E se também os pisaram, como me fizeram a mim? Ai, peno ainda mais por estes últimos, que já foram sugados pela falta de fé no mundo. Espera. Mas e se isso acontecer comigo? E se isto me fizer acreditar que o normal é seguir viagem perante uma pessoa a esvair-se em sangue no meio da rua? Não quero! Agora, mais do que dor, inunda-me a revolta. Não quero estar destinada a isto, não quero que um dia um pobre desafortunado a sangrar no passeio tenha pena de mim por desdenhá-lo a ele e à sua dor. Não! Não pode ser. Sinto a respiração ofegante, estou em pânico. Não quero que o mundo me desiluda assim.


Tento esquecer que as pessoas passam sem me ver. Como? Já sei! Olho para cima e foco-me no céu. Oh!, está tão azul, hoje. Subitamente, a calçada ganha uma luminosidade quente. Mas que céu perfeito. Não ouço já o tic-tac desconcertante de mil sapatos a trotar o chão; são já murmúrios de uma harmonia azul celeste, que de meus olhos parte para de mim se apoderar. O sangue que de tão espalhado nas minhas redondezas mal resta em mim não remete já para a dor de uma vida em fuga; é um mar de paixão que nas suas ondas me aquece e me dá sentido. Sorrio, por fim. Sabia que não me desiludirias.

Peças de uma vida

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

18/12/01

"Eu mudei! Jã não sou aquela menininha armada em forte, convencida que podia bater em todos, que te escrevia. Aquela menininha que não tinha amigos (e choro ao escrever isto).

(...)

Se eu fosse mais tolerante nessa altura, hoje seria muito mais feliz. Agora sou mais humana. Já consigo aceitar opiniões alheias sem dar dois ou três socos na cara, meia dúzia de pontapés e umas mordidelas à mistura. Também estou mais sensível, mais calma... Quem ler isto deve pensar que a mudança foi assim, "da noite para o dia", mas não. Eu tive de me ajudar a mim própria para mudar. Aliás, sempre fui e continuo a ser uma guerreira.

(...)

Durante muito tempo, vi a minha vida sem um ponto de referência.

(...)

Eu já não suportava mais não ter um amigo. Estava sempre triste, tentava isolar-me dos outros.

(...)

Neste cenário, que remédio tive eu senão mudar de personalidade devagarinho. Hoje, continuo a ser bruta, mas para divertir os outros dou estrilho, e eles riem-se. Sou uma pessoa nova."



2/06/05

"Dou por mim a querer voltar atrás e mudar tanta coisa, dizer o que não disse, fazer o que não tive coragem de fazer...

(...)

Sim, tentei mudar para ser aceite. Não tinha amigos e todos os que se davam comigo não confiavam em mim. Eu não fazia parte de nada, vivia nas malhas de mim própria, lutando desesperadamente por ser aceite. Mas não o era e, portanto, a minha arma era actuar, todos os dias, esconder tudo por detrás deste corpo, todas as fragilidades, todas as noites de um choro desesperado e solitário. Acabei por mudar-me de tal forma que deixei de me conhecer, de saber quem era.

(...)

Despesperei... Gritei por auxílio, mas ele tardava a chegar, porque tinha de partir de mim. "



Desespero parece ser a palavra-chave. Um desesperante desencontro de mim mesma. Olhando para trás, recordo as batalhas, a guerra de me reunir com o meu verdadeiro ser, sem mais capas forjadas quer para fora, quer para dentro. Sofro, são cicatrizes duras de suportar. No entanto, hoje sei, hoje sinto, que posso hoje e sempre lutar por mim e que não há altura em que não seja possível que as nossas vidas ganhem o rumo que queremos dar-lhes. Que vivamos aquilo que queremos viver.

Não há retorno, há construção.

(para ti).

sábado, 10 de janeiro de 2009

Vampira - Edvard Munch


No calor de um afago, jaz a força que tanto nos ergue da escuridão como nos destrói ao mover gélidas ventanias cortantes.
Seja a tua luz, que me invade, somente equiparável ao brilho do sangue de meu coração vertido. De meu coração a ti rendido.
Clamo pela protecção do imaculado afecto que da alma me brota. Será o suficiente para trancar longe da consciência a fragilidade que me degrada em mil pedaços de dor? Conseguirei nele fincar minhas mãos trémulas sempre que me falhar o chão?

Cerro os olhos e reúno forças. Espero que bastem.




 
99 Pieces - Templates para novo blogger