sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nunca fui suicida. Engana-se quem pensar que alguma vez exibi essa tendência. Não a tenho, nunca tive. Porém, encontro-me hoje demasiado assustada com as crueldades do mundo, de forma que pensar que o amanhã surgirá me faz tremer e quase rezar para que o amanhã não chegue nunca. Não tenho forças, está tudo a desabar dentro e fora de mim. Sobretudo dentro. As certezas que tenho acerca do que sou e do que tenho feito com a minha vida são de tal modo negativas que me questiono se mereço sequer sentir um sorriso, por breve que seja. Esta parte nem interessa muito pois, merecidos ou não, há já algum tempo que meus sorrisos são vazios. Se me movo em busca de um mundo que me preencha, este acaba apenas por exigir de mim aquilo que embora não possa oferecer, acabo por esbanjar, assim esvaziando-me mais e mais. Todas as palavras soam ocas, todos os momentos a perda de uma vida que se encontra algures, num local que não o meu. Nada me diz coisa alguma, e o pouco que me prende não tenho eu força ou arte para o prender a mim. De facto, tenho-me posicionado sempre à margem do grande rio onde correm fortes as águas, nos bastidores da peça onde decorrem intensos os actos. Creio que até me sentiria, hoje, desconfortável num papel central. Aliás, se nunca o tive, foi por não estar em mim tê-lo. Sou banalmente cinzenta, ridícula, nojenta. Odeio cada partícula de mim, cada acção que falhei, cada frase mal dita, cada passo em falso. Vivo num remorso constante por tudo o que sou, tentando em vão acertar o passo, esperando pela oportunidade de simplesmente estar bem. Mas esse dia tarda, adia-se para o próximo fim-de-semana, para a próxima noite, para as férias que estão para chegar. Chegam e a dor permanece colada a mim, com a agravante de me fazerem pensar “Então, mas não era agora que eu deveria ser feliz?”. Receio o amanhã por saber que não será o dia. “Hoje é o dia!”... Bem queria, como o desejo. Não, hoje é o dia de me abraçar a mim mesma e repetir baixinho “vai ficar tudo bem”, tal como o aluno repete 100 vezes a correcção de um erro ortográfico. Amanhã, abraçarei com menos força, pois meus braços começarão a doer, repetirei ainda mais baixo, com a voz rouca e cansada, os olhos vermelhos, a alma negra. Com menos fé, certamente com menos fé... e mais vontade de por fim me calar, de me largar de vez.

1 Echoes:

Kat disse...

Este texto teve um impacto em mim que n calculas... Identifiquei-me nalgumas partes duma maneira... wow!

Está mto bem escrito como sempre e deixas-me sempre a pensar, é brutal


***

 
99 Pieces - Templates para novo blogger