quarta-feira, 9 de julho de 2008
Estava cansada, ferida na sua fome de esperança. A paz que buscava teimava em escapar-lhe num desolado jogo sem fim. Em cada novo rosto, uma promessa nova, a mesma desilusão, um tombo mais forte.
Sentou-se, por fim, na mais íngreme encosta jamais desenhada, fincando firme os longos, esguios dedos no granito amornado por rios de luz solar. O toque áspero e quente da rude pedra contrastava com a suave brisa por ali ia planando, esbatendo-se nos seus ombros desnudados, permitindo a um doce arrepio desbravar caminho entre as suas vértebras e culminar na cabeça placidamente virada para os céus. Cerrados os olhos, deixava as gigantes mãos do sol acariciar-lhe a face enquanto uma cascata lhe fazia chegar aos ouvidos o fresco chilrear das águas em movimento.
“Afinal, é só isto”, sussurrou para si ao mesmo tempo que os lábios se estenderam num feliz sorriso. “Finalmente encontrei-te”.
(para a Mia, que reinventa o mundo nas sensações que dele tira.)